domingo, 6 de maio de 2012

Índustria dos concursos públicos movimenta cerca de R$ 50 bilhões por ano



Gustavo Henrique
Correio Braziliense     -      06/05/2012






Máquina de preparar concurseiros e de organizar exames cria bilionário segmento da economia que não vai parar de crescer

Enquanto o sonho de conseguir um emprego seguro movimenta fortunas, os candidatos desembolsam o que têm e o que não têm para tentar conquistar o cargo desejado. As perspectivas são animadoras: até 2014, os governos terão que repor entre 400 mil e 600 mil servidores, estimam especialistas da área.


Milhões de brasileiros estimulam a indústria dos certames para o ingresso no setor público a movimentar R$ 50 bilhões por ano
O servidor Henrique Cossão de Souza coleciona números quando o assunto é concurso público. Aos 25 anos, participou de mais de uma dezena de processos seletivos, foi nomeado em oito deles e já trabalhou em quatro órgãos. Ele estuda ininterruptamente desde 2007, dois anos antes de se graduar em Direito.


Analista processual do Ministério Público da União (MPU) desde 2010, Henrique ainda não está satisfeito e almeja um salário maior do que os R$ 6,5 mil atuais. Por enquanto, o servidor aguarda o resultado do concurso do Senado e já tem outros planos caso não seja selecionado.


Assim como Henrique, em média, 30 milhões de pessoas se inscrevem para uma vaga em concursos públicos todo ano e tratam os estudos praticamente como uma religião. Eles compram apostilas, livros e tudo mais que acreditam possa facilitar o ingresso no setor público. São candidatos que largam emprego, família, amigos, noitadas enquanto estudam para conquistar a esperada vaga. "Mesmo em épocas em que não estou focado em algum concurso continuo estudando cinco horas semanais", diz Henrique.


Toda essa dedicação custa caro. Henrique estima já ter gastado pelo menos R$ 13 mil com toda essa preparação, mas acredita que o esforço vale a pena. "Cresci vendo a vida dos meus pais, que também são concursados. Sempre observei que eles têm bons salários e estabilidade e optei por essa vida também", sustenta. Desde cedo ele vê o esforço ser recompensado. Em 2009, passou no primeiro concurso, no Ministério do Trabalho. Desde então passou pelo Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF) e pela Secretaria de Justiça antes de chegar ao MPU.


Candidatos lotam as salas de aula dos cursos preparatórios e dedicam mais de 6 h diárias ao estudo


Estudos
Assim como Henrique, o também servidor Rodrigo Pinto, 26 anos, leva as seleções públicas a sério. Ele conta que, em época de concurso, chega a estudar 16 horas por dia. "O último concurso que prestei, do Senado, estudei em regime exclusivo. Tirei férias do trabalho e até terminei o namoro para conseguir me dedicar", lembra. "Mas,  depois do concurso, voltei", diverte-se. Também formado em direito, o rapaz ingressou no MPU no mesmo ano em que se formou, em 2010. "O serviço público é onde estão as melhores remunerações para pessoas que acabaram de se formar", argumenta. Glauce Cândida Lopes também engrossa as estatísticas dos que investem para passar em concursos públicos, "pela segurança que o emprego oferece e a possibilidade de carreira".


Nos cálculos de Ernani Pimentel, presidente da Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (Anpac), a tendência é de que, nos próximos anos, o volume financeiro movimentado pelo setor de concursos só vai crescer. "Basta observar que, até 2014, entre 400 mil e 600 mil servidores federais irão se aposentar, isso sem contar outros milhares nas esferas estadual e municipal. O governo não terá alternativa a não ser repor os quadros, caso contrário a máquina pública vai parar", pondera. Por isso, Pimentel considera urgente a necessidade de uma legislação específica para regulamentar o setor.


"Os empresários e candidatos não podem ficar reféns de tantos problemas. Os absurdos vão desde clonagem de questões a prazos inadequados, provas mal elaboradas e contratação de organizadoras sem a devida qualificação", afirma o presidente da Anpac. Para José Wilson Granjeiro, diretor-presidente da rede Grancursos, é preciso também criminalizar as fraudes em concursos, já que, no entender dele, a legislação atual ainda é modesta nesse sentido. "Não se trata apenas de ganhar dinheiro, mas de melhorar a qualidade da administração pública", defende Granjeiro.


Paulo Estrella, diretor da rede Academia do Concurso, divide os candidatos em dois grupos: os imediatistas — geralmente pessoas desempregadas, que enxergam no concurso uma porta de entrada no mercado de trabalho — e os concurseiros "típicos" — que visam estudos de médio e longo prazos e salários mais altos. Em geral, os imediatistas logo se dão conta de que a aprovação não é algo tão simples e desistem assim que surge uma oportunidade no mercado privado ou acabam aprovados em um cargo genérico, com nível de concorrência e salários baixos.


"Em períodos de plano emprego, como o que vivemos desde o fim do ano passado, a tendência é de que os candidatos imediatistas se tornem mais raros", explica Estrella. Já o típico concurseiro dedica anos seguidos aos estudos e não para nem mesmo após ter sido aprovado, sempre em busca de posições melhores.


"O último concurso que prestei, do Senado, estudei em regime exclusivo. 



Tirei férias
do trabalho e até terminei o namoro para conseguir me dedicar"
Henrique Cossão de Souza, servidor público e concurseiro


30 milhões
Brasileiros que disputam vaga no serviço público


Agenda
Confira alguns concursos aguardados para serem lançados nos próximos meses:


Órgão -  Vagas
» Agência Nacional de Águas (ANA)  -  45
» Banco Central  -  100
» Fundação Biblioteca Nacional  -  44
» Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE)  -  140
» Ibama  -  108
» Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)  -  140
» Ministério da Agricultura  -  360




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